top of page
  • Massimo Milella

Alkantara Festival: Jezebel di Cherish Menzo

[No fundo do artigo, vai-se encontrar a tradução em português.]

“I absolutely am a master of illusion”

(Melyssa Ford, Video Vixen star canadese intervistata nel 2007 dallo studioso Murali Balaji, Penn State University.)



Danzatrice e coreografa olandese classe ‘88 (ha già lavorato con Benjamin Kahn, Olivier Dubois, Jan Mertens), Cherish Menzo mette in scena la sua performance nell’ultimo dei tre giorni a lei dedicati proprio in apertura dell’Alkantara Festival.

Un lunedì di tutto esaurito, età media del pubblico 25-30 anni, così a occhio.

Jezebel è l’incarnazione, personale e collettiva insieme, dello stato dell’arte di una delle più potenti e suggestive domande intorno al complesso macchinario postmoderno che vede relazionarsi sessualità, femminismo, industria musicale e cultura popolare.

In particolare, l’idea di partenza di Menzo è rivisitare la figura delle Video Vixen, le ragazze, spesso nere, che affollano i video dei musicisti hip hop, strettamente connesse con lo stereotipo della donna oggetto, di una promessa di appagamento sessuale in chiave machista, a volte anche con implicazioni di violenza o di umiliazione, ragazze “Jezebel”, biblici riferimenti di provocatrici sconvenienti e lussuriose.

La storia di queste Video Vixen è naturalmente ben più complessa di queste tre righe di sintesi, per chi volesse approfondirla, varrà la pena almeno citare il nome di Karrine “Superhead” Steffens, star del mondo Video Vixens che a metà degli anni 2000 ha inaugurato una clamorosa carriera da scrittrice. Confession of a Video Vixen è il titolo di uno dei suoi maggiori successi commerciali in libreria, seguito poi da molti altri, oltre che da interviste nei “salotti buoni” della tv americana (Oprah Winfrey, per esempio) e persino conferenze in alcune università americane. Steffens costruisce una narrazione che da un lato svela i retroscena più drammatici e degradanti di questa carriera, dall’altro enfatizza la necessità di una valorizzazione del proprio potere sessuale in chiave Erotic as power - titolo di uno storico libro di Audre Lorde, pioniera del femminismo nero degli anni ‘70, oltre che poetessa.



Menzo rivisita il “concetto” di Video Vixen, attraversandolo in modo potente, estenuante, autodistruttivo, tanto da costringermi a utilizzare la parola “concetto” rinchiusa tra virgolette, perché in questo caso è sfuggente punto di incontro tra materia e immaginario, tra soggetto e oggetto.

Menzo è plurale, inafferrabile, metamorfica, lavorando su una costante - e inquietante - coesistenza di corpi e di mondi: l’animale e l’umano; il reale e il virtuale; la voce simulata e quella registrata. La musica - splendida, curata dal DJ Michael Nunes - i volumi esagerati, il fumo, pelliccia e abito gonfiabile della performer, le coreografie che si focalizzano su singole parti del corpo, “sessualizzando” ogni singolo pezzo di sé fino allo sfinimento: tutto costruisce un meccanismo illusorio e disumanizzato, in cui però sopravvive, come un fenomeno spontaneo, inesprimibile, la libertà del corpo di essere oggetto e soggetto. Si manifesta così una libertà non fraintendibile, né negoziabile. Non si tratta, qui, di “sentirsi liberi” di essere (o performare) ciò che si desidera, ma di “liberarsi” di uno sguardo giudicante, il mio, il nostro, il proprio.

Sarebbe forse molto interessante, in altre sedi e altri formati, espandere questa riflessione nell’ottica di un parallelo tra l’approccio performativo delle coreografie Video Vixens, intorno alla questione di genere - o meglio della sua costruzione/costrizione sociale - e quello di Jezebel di Cherish Menzo, orientato verso l’incarnazione di una performance che rimetta in discussione il meccanismo stesso del proprio sguardo, sperimentandone, con libertà, confini diversi.

Il pubblico accoglie la performance con entusiasmo.

Urletti di approvazione, spettatori in piedi.

Menzo, sfinita, trasfigurata, torna umana, intera.



Cherish Menzo,

Jezebel,

Centro Cultural de Belém,

Alkantara Festival

15.11.21


“I absolutely am a master of illusion”

(Melyssa Ford, estrela canadense Video Vixen entrevistada em 2007 pelo acadêmico Murali Balaji, da Penn State University.)


Bailarina e coreógrafa holandesa (já trabalhou com Benjamin Kahn, Olivier Dubois, Jan Mertens e mais) nascida em 1988, Cherish Menzo encenou a sua performance no último dos três dias a ela dedicados na abertura do Festival de Alkantara.

Uma segunda-feira esgotada; a idade média do público parece rondar os de 25 a 30 anos. É um bom sinal.

Jezebel é uma encarnação pessoal - e ao mesmo tempo colectiva - do “estado da arte” de uma das questões mais poderosas e evocativas que cercam a complexa maquinaria pós-moderna que vê a relação entre sexualidade, feminismo, indústria musical (ou seja, globalização económica) e cultura popular.

No caso específico, a ideia inicial desta performance de Menzo é revisitar a figura das Video Vixen, as raparigas, muitas vezes negras, que se vêem dançar dentro dos vídeos de músicos de hip hop, intimamente ligadas ao estereótipo da mulher como objeto, como promessa de realização sexual no sentido machista, às vezes até com implicações de violência ou humilhação, raparigas “Jezabel”, referências bíblicas a provocadoras indecentes e lascivas.


A história destes Video Vixen é naturalmente muito mais complexa - e interessante - do que estas três linhas contam.

Para quem pretende aprofundá-la, vale a pena pelo menos citar o nome de Karrine "Superhead" Steffens, estrela do mundo Video Vixens que, na primeira?/segunda? metade dos anos 2000, iniciou uma carreira como escritora e teve muito êxito. Confession of a Video Vixen é o título de um de seus maiores sucessos comerciais nas livrarias. Este mundo contado por Steffens atraiu o interesse não só da indústria musical ou da tv mainstream, mas também de escritores, ensaístas, e até de instituições académicas.

Steffens constrói uma narrativa que, por um lado, revela o backstage mais dramático e degradante da carreira de Video Vixen, por outro enfatiza a necessidade de uma afirmação do poder sexual em uma chave "Erotic as Power" - remetendo para o título de um livro muito conhecido de Audre Lorde, poeta e pioneira do feminismo afro-americano dos anos 70.



Em Jezebel, Cherish Menzo encarna o "conceito" mesmo de Video Vixen, cruzando-o de uma forma poderosa, exaustiva, autodestrutiva, a ponto de me obrigar a usar a palavra "conceito" entre aspas, porque neste caso trata-se dum esquivo ponto de encontro entre a matéria e a imaginação, entre o sujeito e o objeto.

Menzo é plural, evasiva, metamórfica, trabalhando em uma constante - e perturbadora - coexistência de corpos e mundos - o animal e o humano; o real do que se vê na cena e o virtual do que aparece no ecrã; a voz simulada no playback e a voz gravada.

A música - maravilhosa, curada pelo DJ holandês Michael Nunes - os volumes exagerados, a fumaça no ar, o casaco de pêlo que esconde o corpo real, os vestidos insufláveis ​​da performer, as coreografias que se concentram em partes isoladas do corpo, sexualizando cada pedaço de si até a exaustão: tudo contribui para a construção de um mecanismo ilusório e desumanizado, em que, no entanto, a liberdade do corpo de ser objeto e sujeito sobrevive como fenômeno espontâneo, inexprimível.


Assim se manifesta uma liberdade que não se arrisca ser mal compreendida - nem sequer negociada.

Aqui não se trata de "sentir-se livre" para ser (ou realizar) o que uma pessoa quiser, mas de "libertar-se" de um olhar julgador, meu, nosso, além do seu próprio.

Seria talvez muito interessante expandir esta reflexão na perspectiva de um paralelo entre a abordagem performativa das coreografias das Video Vixens, sobretudo em torno da questão do género - ou melhor, da sua construção ou condicionamento social - e a desta Jezebel de Cherish Menzo, que põe em causa a necessidade concreta, por uma comunidade, de questionar o próprio mecanismo do olhar e de experimentar as fronteiras da própria liberdade.

O público acolhe Jezebel com um entusiasmo que não ouvi muitas vezes: gritos de aprovação, espectadores em pé.

Menzo, exausta, transfigurada, volta a ser humana de novo, inteira.


Traduzione di Massimo Milella, corretta da Andreia Martins Carvalho / tradução por Massimo Milella, corrigida por Andreia Martins Carvalho


idea, coreografia e performance / conceito, coreografia e performance Cherish Menzo 
disegno luci e coordinamento tecnico / desenho de luz e coordenação técnica Niels Runderkamp 
musica / música Michael Nunes 
video / vídeo Andrea Casetti 
costumi / figurinos Daniel Smedeman 
drammaturgia / dramaturgia Renée Copraij 
sguardo esterno / olhar exterior Berthe Spoelstra, Christian Yav, Nicole Geertruida 
training vocale / treino vocal Shari Kok-Sey-Tjong 
immagine / campanha Tatchatrin Choeychom 
traduzione / tradução Joana Frazão 
coproduzione / coprodução Frascati Productions 
direzione di produzione / gestão de produção Bibi Scholten van Aschat 
gestione distribuzione e tour / distribuição de gestão de digressão GRIP 
gestione / gestão GRIP e Frascati Productions 
con il supporto di / com o apoio de Amsterdam Fonds voor de Kunst 
si ringraziano / agradecimentos Benjamin Kahn, Centre Chorégraphique Le Château
oca, oche, critica teatrale
bottom of page